Pagode Sem Sanfona
O trabalho era muito.
Gente de toda banda começava a procurá-lo.
Desenvolvendo o dom da cura pela simples imposição das mãos, Osório, de fato, vivia agora assoberbado, dividindo o tempo entre a enxada na roça e a mediunidade no centro.
A convite seu, que lhe mandara recado pelo caminhão leiteiro, Zeca montando um cavalo baio com que o próprio Osório lhe presenteara, chega ao Sítio das Garças para um almoço de um domingo ensolarado.
Abraços e cumprimentos.
Um bom papo, enquanto Dona Efigênia preparava aquele franguinho com arroz, tutu de feijão, quiabo e polenta.
A sessão começaria às três da tarde.
Mal Osório teria tempo para fazer o quilo, pois o pesssoal da redondeza e até de Lageado, a cidade mais próxima, começava a chegar.
Zeca estava assustado com tamanha romaria.
O amigo estava ficando famoso...
Era carroça cheia de gente, bicicleta e até automóvel.
Homens, mulheeres e crianças.
Ao todo, Zeca contara só naquele domingo mais de duzentos...
A reunião terminou quase meia-noite e o visitante quase não se aguentava mais de sono - de sono e de fome.
Quando escureceu de vez, acenderam lampião, trouxeram lamparina...
Lá dentro, Osório incorporado, atendia com paciência, um a um.
Receitava plantas medicinais.
Aconselhava o Evangelho.
Era gente entrando e saindo, gente namorando lá fora, gente rezando lá dentro...
Quando tudo terminou, estavam até sem janta - se não fosse por um pedaço de bolo e um pão de queijo da comadre Efigênia, Zeca estaria com a barriga roncando - mas, dizámos, quando tudo terminou, com o seu jeito brejeiro de falar, Zeca, abraçando o cumpadre Osório, disse a ele deixando a dentadura à mostra:
Cumpade, essa tar de mediunidade é um pagode... Virge Maria!...
Sorrindo, como quem aos poucos, ia tomando tento da tarefa, Osório respondeu:
- É um pagode mermo, cumpade, mas é um pagode sem sanfona...E ái de mim, se não subé dançá!...
(do livro Vida de Médium de Carlos Baccelli/Ramiro Gama)
*colaboração de Célia Regina
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