ENTREVISTA REALIZADA PELA ALIANÇA MUNICIPAL
ESPÍRITA DE SETE LAGOAS (MG) com WALTER BARCELOS
Pergunta – O que fazer para desenvolver a
nossa capacidade de paciência a fim de ouvir as crianças? Onde encontrar
subsídios para o nosso preparo?
Walter Barcelos –
Esta orientação
não é só para o evangelizador: é para todo trabalhador espírita de boa vontade.
Façamos do Evangelho de Jesus a luz de nossos pensamentos, o pão de nosso
espírito, o roteiro de nossos passos, as regras das boas maneiras que precisamos
adquirir, o fator educativo de nossos sentimentos, a cartilha de nossa meditação
diária, o aprendizado cotidiano para nossas ações, os princípios libertadores de
nossa formação moral, as indicações para o melhor relacionamento com o próximo,
a força interior do domínio de nossas más tendências e energia poderosa para
amar, mesmo sem sermos amados, o ideal superior de trabalho sem esperar
resultados imediatos e nem recompensas de gratidão. Buscando sem cessar essa luz
interior (resultado da sincronia harmoniosa entre cérebro e coração), com o
passar dos dias, veremos crescer nossa capacidade intima de compreender e amar
os seres humanos, muito especialmente a criança. Não basta estudar e conhecer o
Evangelho de Allan Kardec. Imprescindível aprender e educar-se, compreender e
sentir, amar e trabalhar sintonizado com o Cristo de Deus na plenitude de nosso
coração.
Pergunta – Muitas crianças, quando se
encontram na idade de ir para os ciclos de Mocidade, afastam-se da casa
espírita. Como incentiva-los e motiva-los a permanecer?
Walter
Barcelos – Nos dias atuais, as crianças chegam à fase da
pré-adolescência e passam a ter atitudes de adultos, sem que ainda o sejam.
Querem a todo custo ser o que ainda não são: adultos com todos os direitos,
desejos e liberdades. infelizmente boa parte dos adolescentes passa a usar o
livre arbítrio apresentando mais fatores negativos que positivos em sua
personalidade. Isto é muito natural, devido à condição de nosso planeta ainda
moralmente inferior. Na fase infantil dos filhos, os pais podem monitorar com
certa facilidade o seu livre arbítrio, sua liberdade e até o seu “querer”.
Quanto aos jovens adolescentes, os genitores e dirigentes espíritas não podem
impor autoridade ao seu livre arbítrio no sentido de fiscalizar e cercear sua
liberdade. Nesta fase, o espírito está deixando a fase infantil (aprisionada às
fronteiras da afetividade doméstica) e começa com toda a volúpia a usar a
própria vontade na satisfação de seus próprios interesses dentro das múltiplas
ofertas que o mundo propõe na atualidade. Agora a responsabilidade é mais dele
do que dos pais e dos próprios dirigentes do Departamento de Infância e
Juventude. Será muito ingenuidade de pais e dirigentes quererem monitorar o
livre arbítrio dos jovens adolescentes. É na intimidade do espírito, usando sua
própria vontade, que o jovem faz suas escolhas. Uma delas é abandonar a escola
da fé espírita que vinha freqüentando semanalmente na Escola Espírita de
Evangelização da Criança. Podemos fazer muito pelo jovem, tendo relacionamento
amigo, simpático e respeitoso, porém em ultima instancia quem vai determinar se
permanece ou se afasta será ele mesmo. Podemos vigiar as crianças e não os
jovens adolescentes. As reuniões de Mocidade principalmente dos adolescentes
devem ser mais amenas nos estudos, variando os temas doutrinários, atendendo
algumas vezes a sua preferência; recebendo mensalmente um companheiro mais
experiente para fazer algum tipo de estudo bastante dialogado; promovendo
campanhas e tarefas de assistência fraterna que venham a integrar a alegrar mais
os jovens corações. Os jovens devem ser preparados com carinho para serem no
futuro bons trabalhadores espíritas. Os mais velhos e experientes da casa
espírita têm o dever educacional de se integrar mais de coração com os jovens,
pelos laços sagrados da amizade sincera, tal como Jesus nos ensinou. É preciso
plantar as sementes do amor fraterno no solo dos corações jovens, sem esperar
com ansiedade e pressa os bons resultados, pois isto seria precipitação, e este
sintoma sinaliza imaturidade naquele que deseje ajudar na boa educação da
juventude espírita.
Pergunta – Na casa espírita, quais
as tarefas mais adequadas aos jovens?
Walter Barcelos –
Não resta a menor dúvida de que os jovens devem, em primeiro lugar,
promover reuniões semanais de estudos da Doutrina Espírita, a começar pelas
Obras Básicas de Allan Kardec. Em suas reuniões, não realizar somente estudo
sistematizado, pois isto pesaria muito no entusiasmo dos jovens, cansando-os e
afugentando-os. Alternar estes estudos doutrinários com promover outras reuniões
mais amenas, misturando técnicas de estudos em grupo, favorecendo um melhor e
maior relacionamento afetivo entre os adolescentes. Trabalhar a música
instrumental, o canto individual e coral, pequenas peças de teatro formadas de
breves diálogos. Uma observação merece ser feita: as atividades artísticas na
Mocidade devem ser acessórias e nunca predominar sobre a aprendizagem da
Doutrina Espírita. Realizar atividades de assistência fraterna, de forma mensal
ou bimestral, onde os jovens possam dar sua real colaboração dentro da casa
espírita, integrando-os com os trabalhadores mais velhos e experientes. O
intercâmbio afetivo nos trabalhos do centro constitui fator relevante na
preparação dos jovens para o futuro do Movimento Espírita. Os jovens não podem
ficar isolados em suas atividades, distantes do relacionamento com os mais
velhos e experientes. A separação física e afetiva entre os jovens e os mais
velhos na casa espírita denota gravíssima falha educacional daqueles que se
propõem educá-los.
Pergunta – Antes de iniciar os
trabalhos práticos, quais são as etapas preliminares a serem vencidas por um
grupo mediúnico?
Walter Barcelos – O primeiro passo
muito importante de qualquer grupo mediúnico no inicio de suas tarefas será,
inegavelmente, promover estudos doutrinários sistematizados de “O Livro dos
Médiuns”, de Allan Kardec, e mais algumas obras que tratam do assunto
Mediunidade com grande fidelidade às obras da Codificação, como por exemplo:
“Desobsessão”, de André Luiz/Francisco Cândido Xavier; “Nos Domínios da
Mediunidade”, de André Luiz/Francisco Cândido Xavier; “Seara dos Médiuns”, de
Emmanuel/Francisco Cândido Xavier; “Diálogo com as Sombras”, Hermínio C.
Miranda, e outras boas obras da extensa biografia espírita. Que esse grupo
inicialmente estude pelo menos dois a três anos, antes de iniciar suas tarefas
na casa espírita. Observando a freqüência de cada companheiro espírita, os que
alcançarem ótima assiduidade nesse período de dois a três anos de estudos
sérios, comece somente com eles o trabalho de desobsessão. Daí para a frente,
que esse grupo não deixe nunca de estudar, de forma sistemática, a Doutrina
Espírita, com dia e hora especiais para esta atividade.
Pergunta – A uma vitima de obsessão podemos revelar
alguma coisa do seu passado, com o intuito de mostrar-lhe os motivos da
“cobrança”?
Walter Barcelos – A revelação de
acontecimentos tristes e desagradáveis de vidas passadas não é boa para nenhum
espírito, muito especialmente para os irmãos que estão experimentando processos
obsessivos graves e obstinados. Estes irmãos enfermos não estão nem com o
raciocínio e nem com os sentimentos preparados para analisarem e compreenderem
com grandeza de fé seus erros, vícios e crimes de encarnações passadas. Se
fossem muito úteis essas revelações de ontem, poderíamos estar certos de que os
Mentores Espirituais estariam revelando fatos e causas de vidas pretéritas em
todos os trabalhos mediúnicos e em todos os centros, mas é o que nunca acontece.
Os espíritos superiores, com sua sabedoria, reconhecem a inoportunidade da
regressão a vidas passadas e dos gravames que os tristes acontecimentos possam
acarretar às mentes fracas e torturadas pelas más ações em vidas passadas. É
para a frente que se anda! Vamos sim esclarecer esses nossos irmãos enfermos com
as boas palavras dentro dos ensinos e orientações de fé, amor e caridade do
Evangelho de Jesus. Não é à toa que a reencarnação como que faz descer o véu do
esquecimento completo de nossas vidas passadas, a fim de recomeçarmos o
aprendizado com todo o vigor, com toda a vontade, com toda a esperança... Esta é
a mensagem maior que poderemos passar a todas as pessoas em processo obsessivo.
Pergunta – Na sua visão, quais as maiores dificuldades
e desafios que as casas espíritas enfrentam na tarefa de Assistência Social?
Como amenizá-las ou solucioná-las?
Walter Barcelos –
A casa espírita precisa promover atividades de assistência social,
pois, caso contrário, não terão contato com os que mais sofrem, muito
principalmente atendendo com amor, carinho e gentileza os mais abandonados e
desprotegidos da sociedade, caracterizando-se pela miséria, fome, nudez, falta
de moradia, desarmonia na união conjugal, problemas de vícios e obsessão no
ambiente familiar. O grupo espírita deverá realizar tarefas de
assistência e manter instituições de caridade sempre compatíveis com os seus
próprios recursos financeiros, a fim de não ultrapassar as despesas mensais do
que se arrecada em donativos e recursos amoedados no grupo espírita ou
proveniente de outras fontes. O melhor em matéria de serviços de
assistência para a equipe espírita será escolher pequenas, valiosas e
proveitosas atividades de amor ao próximo que não exijam muito dinheiro e nem
pesem em demasia na balança financeira, dando oportunidade de serviço a muitos
companheiros, dispensando criar e sofrer por manter obras monumentais para
trabalhar na caridade. O trabalho de assistência social não pode se transformar
numa tortura financeira, pois esqueceremos a essência e finalidade da caridade.
Encerrando este humilde esclarecimento, vamos reproduzir as palavras do devotado
amigo espiritual Batuíra, em seu livro “Mais Luz”, lição n. 84, pág. 109-110,
que traduz para nós uma boa e prudente orientação para os grupos espíritas da
atualidade, quanto às suas lutas e dificuldades na manutenção dos serviços de
caridade: “Abeiramo-nos de uma época em que a bênção da caridade precisará
nascer no rumo da prestação de serviço e, por esta mesma razão, as próprias
casas de beneficência, no porvir, se manterão por si próprias à custa do esforço
e da colaboração dos que se beneficiam delas e daqueles que as dirigem com alma
e coração”.
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