Os alquimistas são os “filósofos da matéria” e têm por objetivo atingir a compreensão da natureza e dominar (conhecer) suas leis, sendo hoje chamada a alquimia de “a arte de alterar ou utilizar as vibrações”. Na concepção alquímica, o Universo originou-se de uma substância única, indiferenciada (matéria prima ou quintessência), a qual polarizou-se em princípios activo e passivo, derivando daí o mundo manifesto. Este azoth alquímico corresponde ao conceito ocultista da luz astral (o mesmo veículo ao qual se referem os médiuns que lidam com cura espiritual ou materializações). A alquimia surgiu provavelmente no Egito, como sugere a raiz grega do nome ( khemia = transmutação, fusão, mistura ) e corresponde ao nome copta do Egito ( Khem = terra negra ), segundo Plutarco. Os árabes ( que invadiram o Egito em 640 ), incorporaram esse vocábulo na forma Al-Kimiya (transformação através de Alá). O fundador mítico da filosofia alquímica é o egípcio Hermes Trismegistos ( associado ao deus Toth ), mas a lenda cristã a atribui aos anjos, que ensinaram os segredos da natureza a alguns homens ao apaixonarem-se pelas mulheres terrenas. São quatro os postulados básicos da alquimia: 1) – A unidade do princípio material ( matéria prima primordial ); 2) – Evolução da matéria ( todos os elementos são radioativos, uns mais outros menos, de forma que ao longo de milhões de anos, mesmos os átomos considerados estáveis, sofrem transformações análogas à dos elementos instáveis ); 3) – Os elementos químicos representam estados de evolução ( sendo o ouro o mais perfeito ); 4) – A transformação é o resultado de uma evolução natural ainda desconhecida do homem, a qual é possível reproduzir em laboratório, sendo este trabalho ao mesmo tempo espiritual e material ( ora et labora = reza e trabalha; de onde vem a palavra laboratório = labor + oratório ). Segundo Frater Albertus, “ervas, animais e metais – tudo cresce a partir da semente”. Esta “semente” é denominada spiritus ou astra. Os metais, como seres vivos, podem estar sujeitos a doenças diversas, como comprovam alguns experientes radiestesistas ou radiônicos, inclusive eles podem até ‘morrer’, e geralmente os metais que empregamos estão realmente mortos, uma vez que perderam seu spiritus. O uso de alguns destes metais ‘adoecidos’ ou de ligas metálicas cuja combinação se origina de metais de caráteres diversos, pode precipitar o surgimento de diversos males. Segundo a filosofia alquímica e os princípios da magia, os sete metais planetários são os que mais acumulam spiritus de natureza análoga à “influência” planetária correspondente. Eles apresentam um ritmo energético oscilante, de acordo com a posição do astro a ele associado ( é o “biorritmo” do metal ). Como o próprio Hahnemann ( fundador da homeopatia ) comprovou, as coisas que são de alguma maneira semelhantes na natureza de suas vibrações características têm afinidade entre si. Isto é conhecido como “Princípio das Correspondências ou Concordâncias”. Os florais e a homeopatia baseiam-se em princípios elementares da alquimia herbácea ( alquimia vegetal, que compõe a “Pequena Circulação”, em contraposição à alquimia mineral ou “Grande Circulação” ). Em ambos os casos, o princípio ativo é a quintessência dos elementos impregnada num catalisador ( água ou álcool ). A alquimia é, antes de mais nada, um sistema de autotransformação. O caminho é ao mesmo tempo espiritual e material. Existem duas vias para o pesquisador: a via úmida e a via seca ( ou a do sábio e do filósofo ). Uma é mais rápida do que a outra; no entanto, é muito mais arriscada. A transmutação ocorre livre na natureza e intriga diversos pesquisadores: como é possível que uma galinha, cuja ração é absolutamente carente de cálcio, possa gerar ovos, sabendo-se que a descalcificação de seus ossos não responde o suficiente para o processo? Como um pinto recém-nascido pode ter mais cálcio do que a gema que o gerou? Estes e muitos outros mistérios serão esclarecidos no dia em que o homem se debruçar sobre o conhecimento antigo, sem preconceitos, e estudá-los com afinco, como nos diz Fritjof Cappra ( “O Tao da Física” ).
29 DE AGOSTO DE 1831, nascia "DR. ADOLFO BEZERRA DE MENEZES CAVALCANTI : "Espírito e Coração Fraterno, Humilde, Amigo, Caridoso e Bom - MÉDICO DOS POBRES - ADMINISTRADOR DA CASA DE ISMAEL"
1 - PALAVRAS DE ISMAEL A BEZERRA DE MENEZES EM REUNIÃO NA ESPIRITUALIDADE MAIOR ANTES DE SUA REENCARNAÇÃO. Livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, pelo Espírito de Humberto de Campos, Psicografia de Francisco Cândido Xavier - Trechos do capítulo 22 “Bezerra de Menezes” - página 175: Ia resplandecer a suave luz do Espiritismo, depois de certificado o Senhor da defecção espiritual das igrejas mercenárias, que falavam no globo em seu nome. Todas as falanges do Infinito se preparam para a jornada gloriosa. As abnegadas coortes de Ismael trazem as suas inspirações para as grandes cidades do país do Cruzeiro, conseguindo interessar indiretamente grande número de estudiosos. Prestes a findar o primeiro reinado, Ismael reúne no espaço os seus dedicados companheiros de luta e, organizada a venerável assembléia, o grande mensageiro do Senhor esclarece a todos sobre os seus elevados objetivos. - Irmãos, expôs ele, o século atual, como sabeis, vai ser assinalado pelo advento do Consolador à face da Terra. Concentraremos, agora, os nossos esforços na terra do Evangelho, para que possamos plantar no coração de seus filhos as sementes benditas que, mais tarde, frutificarão no solo abençoado do Cruzeiro. Houve na alocução de Ismael uma breve pausa. Depois, encaminhando-se para um dos dedicados e fiéis discípulos, falou-lhe assim: “- Desceras às lutas terrestres com o objetivo de concentrar as nossas energias no país do Cruzeiro, dirigindo- as para o alvo sagrado dos nossos esforços. Arregimentarás todos os elementos dispersos, com as dedicações do teu espírito, a fim de que possamos criar o nosso núcleo de atividades espirituais, dentro dos elevados propósitos de reforma e regeneração. Não precisamos encarecer aos teus olhos a delicadeza dessa missão; mas, com a plena observância do código de Jesus e com a nossa assistência espiritual, pulverizarás todos os obstáculos, à força de perseverança e de humildade, consolidando os primórdios de nossa obra, que é a de Jesus, no seio da pátria do seu Evangelho. Se a luta vai ser grande, considera que não será menor a compensação do Senhor, que é o caminho, a verdade e a vida”. Havia em toda a assembléia espiritual um divino silêncio. O discípulo escolhido nada pudera responder, com o coração palpitante de doces e esperançosas emoções, mas as lágrimas de reconhecimento lhe caíam copiosamente dos olhos. Ismael desfraldara a sua bandeira à luz gloriosa do Infinito, salientando-se a sua inscrição divina, que parecia constituir-se de sóis infinitésimos. Daí a algum tempo, no dia 29 de agosto de 1831, em Riacho do Sangue, no Estado do Ceará, nascia Adolfo Bezerra de Menezes, o grande discípulo de Ismael, que vinha cumprir no Brasil uma elevada missão”. Sua missão foi dar início à unificação da família espírita no Brasil, para que a obra de Ismael pudesse ser livremente cultivada nos séculos futuros; e essa obra prossegue sempre. Podem as inquietações separar, muitas vezes, os trabalhadores humanos no seu terreno de ação; mas onde se ergue a flâmula luminosa “Deus, Cristo e Caridade” permanece Bezerra de Menezes como um de seus mais venerandos diretores espirituais. 2 - O APOSTOLADO DA MEDICINA - Livro: Lindos Casos de Bezerra de Menezes. Ramiro Gama “Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de escolher hora, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito lhe bate à porta. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e se achar fatigado, ou por ser alta noite, mau o caminho ou o tempo, por ficar longe ou no morro; o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro, - esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura. Esse é um desgraçado que manda para outro o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu espírito, a única que jamais se perderá nos vais-e-vens da vida”. 3 – CARIDADE - Livro: Páginas do Coração. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. “A caridade é a chave da Casa de Deus. De posse dela, poderemos buscar a morada nova, em cuja intimidade as flores da paz e da alegria nos respondem com abençoadas luzes de sempre”. 4 - MOMENTOS APÓS A DESENCARNAÇÃO DE DR BEZERRA – APRESENTAÇÃO ANEXA - Livro: O Semeador de Estrelas - Psicografia de Suely Caldas Schubert. DR_BEZERRA_DE_MENEZES.pps
Um grande número de indivíduos procura o Centro Espírita com um diagnóstico próprio ou de terceiros, afirmando que a mediunidade está prejudicando suas existências físicas e lhes causando sérios problemas. Desfilam queixas e lamentações descabidas, asseverando uns, que se fosse para libertá-los dos vexames, estariam prontos para iniciar o desenvolvimento da faculdade de que se dizem portadores; outros, todavia, numa atitude irreverente, preferem solicitar pura e simplesmente uma fórmula milagrosa, a fim de se livrarem, segundo eles, dessa cruz que lhes está a impingir sofrimentos injustos. Terminam, via de regra, com a seguinte frase: “Nunca pedi a Deus tal faculdade!”...
Torna-se necessário esclarecer de imediato que a mediunidade nunca foi fator de desditas e nem tampouco, o querer desenvolvê-la ou o deixar de fazê-lo propiciará a alguém liberar-se dos compromissos conscienciais assumidos nas próprias provações escolhidas ou aceitas antes do processo reencarnatório. Para que fique bem claro, a faculdade medianímica, conforme preceituou Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, é neutra, instrumento de trabalho que se manifesta através de uma predisposição psicofísica capaz de produzir quando utilizada para a prática do bem ao próximo sem qualquer interesse subalterno, o ressarcimento de pesados débitos do seu portador catalogados na Contabilidade Divina, além de ser um caminho de evolução moral-espiritual. Todos os males assinalados nos seres humanos têm as suas matrizes na tecelagem sutil do perispírito. Ali se encontram os registros da boa ou má utilização que se faz dos patrimônios que a Vida a todos nos concede. O mau uso desses valores fica regido pelas consequências dos atos perpetrados pelos indivíduos no uso do seu livre-arbítrio, obrigando-os, para efeito reeducativo, a serem os seus próprios herdeiros. Em decorrência disso, assevera a concepção espírita de que ninguém sofre injustamente, nem por imposição da Divindade. Colhemos o que semeamos. Portanto, esses que se fazem passar hoje, como vítimas inocentes, são facilmente identificados, embora estejam numa nova indumentária carnal. Como a individualidade não se consome na sepultura na feição de espírito imortal, eles retornam ao palco da existência física com a finalidade de se submeterem ao impositivo da lei de progresso. São os trânsfugas da Lei Divina, escrita na consciência individual de cada ser inteligente, procurando fugir de si mesmos, atormentados por um passado culposo e um presente vazio de realizações na arte de amar. Injustamente, transferem para a mediunidade, o motivo das suas frustrações e infelicidades...
Pergunta-se, então: são todos, os que assim sofrem, realmente médiuns, na acepção exata da palavra? Precisam desenvolver de pronto a faculdade que existe latente em todos eles? Obviamente, que a resposta é negativa. A maioria deles constituem-se de Espíritos encarnados acicatados por profundas exulcerações morais de difíceis cicatrizações. Portadores de doenças espirituais, necessitados de assistência espiritual de longo curso, mas que se resolvessem a beber a água lustral do Evangelho de Jesus Cristo, encontrariam a cura antecipada para os sofrimentos atuais. No entanto, uma parcela deles possui o afloramento da mediunidade ostensiva precisando desenvolvê-la e educá-la para tornarem-se instrumentos hábeis nas mãos dos Instrutores Espirituais. Por falta de definição com respeito aos compromissos assumidos no Mundo Espiritual para o labor em benefício dos sofredores da Erraticidade inferior com os quais sintonizam, absorvem as vibrações enfermiças dessas entidades acarretando-lhes distúrbios emocionais de toda ordem, inclusive obsessões pertinazes de caráter pandêmico.
Devem ser acolhidos no Setor de Atendimento Fraterno para orientá-los, a fim de incorporarem-se aos grupos de estudo da doutrina espírita, frequentarem as reuniões públicas doutrinárias, receberem o benefício da bioenergia, sorver a água fluidificada e, caso seja necessário, pela persistência de sintomas orgânicos, buscar a assistência médica especializada. Esta é a fase de desintoxicação dos fluidos enfermiços a que estão habituados, causa das chamadas doenças enigmáticas. Conforme a disposição de cada um e o interesse que demonstrar em se renovar moralmente, começam a sentir depois de sua integração no Centro Espírita os efeitos salutares da terapêutica recomendada, com reflexos imediatos no psiquismo e na saúde física. Para efeito de uma melhor aclimatação aos hábitos novos adquiridos, hão que encontrar tempo paras reflexões necessárias. Como consequência de uma nova ordem de ideias de que se vão tomando conhecimento, o melhor seria oferecerem-se para pequenas tarefas, o laborterapia, indispensáveis para a harmonização interior. Em seguida, por deliberação espontânea, solicitar permissão a quem de direito para ingressar em grupamento mediúnico na Casa Espírita da sua opção. JOSÉ FERRAZ
Sobre o autor:
José Couto Ferraz é trabalhador da Mansão do Caminho (Salvador/Bahia), médium ostensivo e membro do Projeto Manoel Philomeno de Miranda. Como membro da equipe do Projeto Manoel Philomento de Miranda, é coautor dos seguintes livros: Reuniões Mediúnicas (1993), Vivência Mediúnica (1994), Terapia pelos Passes (1996), Atendimento Fraterno (1998), Qualidade na Prática Mediúnica (2000), Consciência e Mediunidade (2003), Passes – Aprendendo com os Espíritos (2006), Estudando o Livro dos Médiuns (2008) ; e, por fim, Reuniões Doutrinárias e Mediúnicas no Centro Espírita (2001), em parceria com Adilton Santos.
A grande imprensa brasileira, que nos últimos anos exacerbou, por incompetência e ideologia, a superficialidade que sempre a caracterizou, tem sido coerente ao tratar da vinda de quatro mil médicos cubanos: limita-se a noticiar o fato e reproduzir as críticas das associações corporativas de médicos e dos políticos oposicionistas. Mantém-se fiel à superficialidade que é sua marca, acrescida de forte conteúdo ideológico conservador e de direita.
Não conta, por exemplo, que médicos cubanos já trabalharam no Brasil, atendendo a comunidades pobres e distantes nos estados de Tocantins, Roraima e Amapá. Não houve nenhuma reclamação quanto à qualidade desse atendimento e nenhum problema com o conhecimento restrito da língua portuguesa. Os médicos cubanos tiveram de deixar o Brasil por pressão do corporativismo médico brasileiro – liderado por doutores que gostam de trabalhar em clínicas privadas e nas grandes cidades.
A grande imprensa não conta também que há mais de 30 mil médicos cubanos trabalhando em 69 países da América Latina, da África, da Ásia e da Oceania, lidando com pessoas que falam inglês, francês, português e dialetos locais. Só no Haiti, onde a população fala francês e o dialeto creole, há 1.200 médicos cubanos – que sustentam o sistema de saúde daquele país e, como profissionais com alto nível de educação formal, aprendem rapidamente línguas estrangeiras.
O professor John Kirk, da Universidade Dalhousie, no Canadá, estudou a participação de equipes de saúde de Cuba em vários países e é dele a frase seguinte: “A contribuição de Cuba, como ocorre agora no Haiti, é o maior segredo do mundo. Eles são pouco mencionados, mesmo fazendo muito do trabalho pesado”. Segredo porque a imprensa internacional – especialmente a estadunidense — não gosta de falar do assunto.
Kirk contesta o argumento de que os médicos cubanos que atendem as comunidades pobres em vários países não são eficientes por não dominar as últimas tecnologias médicas: “A abordagem high-tech para as necessidades de saúde em Londres e Toronto é irrelevante para milhões de pessoas no Terceiro Mundo que estão vivendo na pobreza. É fácil ficar de fora e criticar a qualidade, mas se você está vivendo em algum lugar sem médicos, ficaria feliz quando chegasse algum”. O problema dos que contestam a vinda de médicos estrangeiros e, em especial dos cubanos, é que as pessoas que passam anos ou toda a vida sem ver um médico ficarão muito felizes quando receberem a atenção que os corporativistas do Brasil lhes negam e tentam impedir.
SOCIALISMO E GUERRA FRIA
Duas informações referentes à vinda de médicos cubanos para o Brasil e que podem ser úteis aos que querem ir além do que diz a grande imprensa:
- Cuba é um país socialista e por isso, gostemos ou não, as coisas não funcionam exatamente como em um país capitalista. Como é um país socialista, há a preocupação de manter baixos os índices de desigualdade econômica e social. Por isso nenhuma empresa ou governo estrangeiro contrata trabalhadores cubanos diretamente, em Cuba ou no exterior (nesse caso quando a contratação é resultado de um acordo entre estados). Todos são contratados por empresas estatais que recebem do contratante estrangeiro e pagam os salários aos trabalhadores, sem grande discrepância em relação ao que recebem os que trabalham em empresas ou organismos cubanos. Os médicos que trabalham no exterior recebem mais do que os que trabalham em Cuba. Mas algo como nem muito que seja um desincentivo aos que ficam, nem tão pouco que não incentive os que saem.
- O governo dos Estados Unidos tem um programa especial para atrair médicos cubanos que trabalham no exterior. Eles são procurados por funcionários estadunidenses e lhes são oferecidas inúmeras vantagens para “desertar”, como visto de entrada, passagem gratuita, permissão de trabalho e dispensa de formalidades para exercer a atividade. Os que atuam na América Latina são os mais procurados e uma condição para serem aceitos no programa é que critiquem o sistema político cubano e digam que os médicos no exterior são oprimidos e mantidos quase como escravos. Os que aceitam as ofertas dos Estados Unidos, os que emigram para outros países ou ficam no país que os recebe depois de terminado o contrato representam cerca de 3% dos efetivos. No Brasil, mantida essa média, pode-se esperar que até 120 dos quatro mil médicos cubanos “desertem”.
UM SISTEMA IRREAL
A citação a seguir é do New England Journal of Medicine: “O sistema de saúde cubano parece irreal. Há muitos médicos. Todo mundo tem um médico de família. Tudo é gratuito, totalmente gratuito. Apesar do fato de que Cuba dispõe de recursos limitados, seu sistema de saúde resolveu problemas que o nosso [dos EUA] não conseguiu resolver ainda. Cuba dispõe agora do dobro de médicos por habitante do que os EUA”. Menções elogiosas ao sistema de saúde cubano e a seus profissionais são frequentes em publicações especializadas e ditas por autoridades médicas e organizações internacionais, como a Organização Mundial de Saúde, a Organização Panamericana de Saúde e o Unicef. Mas mesmo assim, querendo negar a realidade, médicos e políticos brasileiros insistem em negar o óbvio, chegando ao absurdo de dizer que nossa população está correndo riscos ao ser atendida pelos cubanos.
Para começar, os indicadores de saúde em Cuba são os melhores da América Latina e estão à frente dos de muitos países desenvolvidos. A mortalidade infantil, por exemplo (4,8 por mil), é menor do que a dos Estados Unidos. Aliás, para os que gostam de dizer que Cuba estava melhor antes da revolução de 1959, naquela época era de 60 por mil. A expectativa de vida dos cubanos é também elevada: 78,8 anos.
Outro, aliás, quanto aos saudosistas: em 1959, Cuba tinha seis mil médicos, sendo que três mil correram para os Estados Unidos quando viram que não haveria mais lugar para o sistema privado de saúde e que os doutores elitistas e da elite perderiam seus privilégios. Hoje tem 78 mil médicos, um para cada 150 habitantes, uma das melhores médias do mundo. Isso permite a Cuba manter mais de 30 mil médicos no exterior. Desde 1962, médicos cubanos já estiveram trabalhando em 102 países. Em 2012 formaram-se em Cuba 5.315 médicos cubanos em 25 faculdades públicas e 5.694 estrangeiros, que estudam de graça na Escola Latino-americana de Medicina (Elam). A Elam recebe estudantes de 116 países, inclusive dos Estados Unidos, e já formou 24 mil estrangeiros.
Os médicos cubanos se formam após seis anos de graduação, incluindo um de internato, e mais três ou quatro anos de especialização. Os generalistas, que atendem no sistema Médico da Família (um médico e um enfermeiro para 150 a 200 famílias, e que moram na comunidade que atendem) são preparados para atuar em clínica geral, pediatria, ginecologia-obstetrícia e fazer pequenas cirurgias.
Dos quatro mil médicos que vêm para o Brasil, todos têm especialização em medicina de família, 42% já trabalharam em pelo menos dois países e 84% têm mais de 16 anos de atividade. Grande parte já atuou em países de língua portuguesa, na África e em Timor-Leste. Foi em Timor, a propósito, que ocorreu o fato seguinte: o embaixador estadunidense exigiu do então presidente Xanana Gusmão que expulsasse os médicos cubanos. Xanana perguntou quantos médicos dos Estados Unidos havia no Timor-Leste e quantos o país mandaria para substituir os mais de duzentos cubanos que estavam lá. Diante da resposta, de que havia apenas um, que atendia os diplomatas norte-americanos, e que não viria mais nenhum, Xanana, simplesmente, disse que os cubanos ficariam. E estão lá até hoje. Falando português.
OS LIMITES DO CORPORATIVISMO
1 – Sindicatos de trabalhadores existem para defender os interesses das categorias profissionais que representam. São corporativistas por definição.
2 – É natural que esses interesses conflitem com os de seus empregadores, especialmente em questões ligadas à remuneração e condições de trabalho.
3 – Muitas vezes os interesses de uma categoria batem de frente com interesses de outras categorias, e aí cada sindicato defende seus representados, o que também é natural.
4 – Outras vezes os interesses de uma categoria colidem com interesses do país e da sociedade. Essa é uma questão complicada: quem tem legitimidade para definir os interesses nacionais é a população, que só é consultada quando elege seus governantes e representantes. E esses governantes e representantes têm, muitas vezes, sua legitimidade contestada.
A contradição entre interesses corporativos e interesses nacionais e da sociedade, assim, só pode ser resolvida pelos que têm legitimidade para expressar esses interesses nacionais e da sociedade em seu conjunto. Nos últimos dias, tivemos três bons exemplos de como os interesses corporativos colidem com os da sociedade. São três causas que podem interessar às categorias profissionais, mas violam a legislação e ferem os direitos humanos e sociais:
- O sindicato dos servidores no Legislativo defendeu que funcionários da Câmara e do Senado recebam remunerações que superam o teto salarial que deve vigorar para todos.
- O sindicato dos aeroviários defendeu a tripulação que criou absurdos e desnecessários constrangimentos a uma criança de três anos e a sua família, por causa de uma doença não infecciosa.
- Os sindicatos de médicos são contra o trabalho de médicos estrangeiros no Brasil, mesmo não havendo médicos brasileiros interessados no trabalho que eles vão fazer.
O corporativismo é inevitável, e os interesses corporativos devem ser discutidos e considerados. Não podem é prevalecer quando contrariam interesses e direitos da sociedade: o teto salarial dos servidores tem de ser respeitado, ninguém pode ser submetido a constrangimentos por causa de uma doença e as pessoas têm o direito de receber assistência médica, seja de um brasileiro ou de um estrangeiro.
SISTEMA CUBANO DÁ “DE LAVADA”
As frases a seguir são de um médico cubano radicado no Brasil desde 2000. Insuspeito, pois abandonou Cuba. Formou-se lá e se especializou em epidemiologia e administração da saúde. Trabalhou por dois anos em Angola e veio para Santa Catarina em um acordo da prefeitura de Irati com o governo de Cuba. Dois anos depois resolveu ficar no Brasil, onde vive com a mulher e quatro filhos. Critica o sistema de pagamento aos médicos, dizendo que ficava com 50% do que era pago pela prefeitura. Mesmo tendo “desertado”, não entra na onda dos médicos brasileiros e dos oposicionistas de direita que atacam a vinda dos cubanos. O que o médico cubano Alejandro Santiago Benítez Marín, 51 anos, disse ao portal G1:
- “Em dois meses, eu já entendia perfeitamente tudo (diferenças culturais, língua). Fazer medicina é igual em todo o lugar, só muda o endereço”.
- “Eu não sou contra que eles venham, não. Os médicos cubanos são muito bons, nossa medicina é a melhor do mundo. Só não concordo com a forma como o governo quer pagar, repassando o dinheiro para Cuba e Cuba vai decidir a quantia que vai repassar. Isso não tem cabimento”.
- “Há médicos cubanos fazendo um excelente trabalho no Norte e Nordeste. O Conselho Federal de Medicina tem nos ofendido sem necessidade desde o início, chamando-nos de curandeiros, feiticeiros. Eu sou incapaz de ofender um médico brasileiro, mesmo conhecendo médicos brasileiros que cometem erros, a imprensa publica sempre. Tem médico ruim e bom tanto no Brasil quanto em Cuba. Não temos culpa do que está acontecendo no Brasil e que os médicos de fora têm que vir”.
- “Em Cuba é bem mais fácil o atendimento, não tem esta fila que há hoje no SUS, em que há a demora de três meses para a realização de exames simples, como ultra-sonografia ou ressonância. Em Cuba este exame é feito no mesmo dia ou na mesma semana. Esta demora faz o diagnóstico médico ter que esperar”.
- “O sistema cubano dá ‘de lavada’ no SUS, tanto no atendimento normal quanto de emergência. A especialização nossa é muito boa, tanto que Cuba exporta médicos para mais de 70 países”.
Por Hélio Doyle, membro do núcleo de estudos cubanos da UNB) – matéria postada no site Brasil 247, em 24/8/2013
Salão parisiense com as "mesas girantes" (revista "L'Illustration", 1853).
Afirma-se que a história do espiritismo no Brasil remonta ao ano de 1845, quando, no então distrito de Mata de São João, na então Província da Bahia, teriam sido registradas as primeiras manifestações.[carece de fontes?] De acordo com Divaldo Pereira Franco, o ano teria sido 1849, tendo se caracterizado por um confronto entre elementos da Igreja Católica e espíritas, com a interveniência de força policial.[carece de fontes?]
O fenômeno das mesas girantes foi noticiado pela primeira vez no país pelo jornal "O Cearense", 1853.[carece de fontes?]
Em Salvador, capital da Bahia, foi fundado em agosto de 1857 o Conservatório Dramático da Bahia, do qual participavam, entre outros, personalidades como Rui Barbosa e Luís Olímpio Teles de Menezes. Foi neste grupo que Teles de Menezes travou contato com os estranhos fenômenos, vindo a corresponder-se com espíritas franceses.5
Nas páginas da Revue Spirite, sob o título "O Espiritismo no Brasil", Kardec informou aos seus leitores que o periódico "Diário da Bahia" em suas edições de 26 e 27 de setembro de 1865, trouxera dois artigos, tradução em língua portuguesa dos que haviam sido publicados, seis anos antes, pelo Dr. Amédée Dechambre (1812-1886), coordenador de publicação do "Dictionnaire encyclopédique des sciences médicales". Os artigos eram transcrições da "Gazette Médicale", onde aquele médico fizera uma exposição semiburlesca do assunto, referindo, por exemplo, que o fenômeno das mesas girantes e falantes já havia sido referido pelo poeta grego Teócrito (300-250 a.C.), pelo que concluía que, não sendo novo esse fenômeno, não tinha nenhum fundo de realidade.
"Lamentamos que a erudição do Sr. Déchambre" - comentou Kardec -, "não lhe tenha permitido ir mais longe, porque teria encontrado o fenômeno no antigo Egito e nas Índias." (Op. cit., v. VIII, p. 334-335). Os próprios espíritas da Bahia refutaram imediatamente esses artigos no próprio "Diário da Bahia", na edição de 28 de setembro. A carta que antecedeu a refutação, dirigida à redação da folha baiana e assinada por Teles de Menezes, José Álvarez do Amaral e Joaquim Carneiro de Campos, leva a supor que o referido jornal só publicara o trabalho do Dr. Déchambre por julgar houvesse nele uma apreciação exata da Doutrina Espírita.
A refutação consistiu num extenso extrato da introdução de "O Livro dos Espíritos", o que levou Kardec a afirmar: "As citações textuais das obras espíritas são, com efeito, a melhor refutação às desfigurações que certos críticos fazem sofrer a Doutrina." (Op. cit., p. 336. Apud Zêus Vantuil e Francisco Thiesen. Allan Kardec - Pesquisa Bibliográfica e Ensaios de Interpretação. Rio de Janeiro: FEB.)
Este episódio é coevo da fundação, naquele mesmo ano (1865), em Salvador, do Grupo Familiar do Espiritismo por Teles de Menezes. Será este mesmo personagem que orientará, nesse ano, a primeira sessão espírita registada nos anais do Espiritismo no país, a 17 de setembro.
No ano seguinte (1866), na cidade de São Paulo, a Tipografia Literária publicou "O Espiritismo reduzido à sua mais simples expressão", de Kardec, sem indicação de tradutor.
Também foi na Bahia que se registou o início da reação da Igreja Católica, através da pastoral "Contra os erros perniciosos do Espiritismo", de autoria do então arcebispo da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, Manuel Joaquim da Silveira (16 de junho de 1867).6
Em julho de 1869, em Salvador, iniciou-se a publicação da revista "O Écho d'Alêm-Tumulo", sob a direção de Teles de Menezes.
Mais tarde, em novembro de 1873, fundou-se em Salvador a Associação Espírita Brasileira, continuação do "Grupo Familiar do Espiritismo" e, no ano seguinte (1874), na mesma cidade, alguns membros dessa Associação fundaram o "Grupo Santa Teresa de Jesus".
"Verificamos, com satisfação que a ideia espírita faz progressos sensíveis no Rio de Janeiro, onde ela conta com numerosos representantes, fervorosos e devotados. A pequena brochura "Le Spiritisme à sa plus simple expression", publicada em língua portuguesa, contribuiu, não pouco, para ali espalhar os verdadeiros princípios da Doutrina."
"Por essa época ocorreu um fato bem significativo: Os espíritas, ou por discordância de idéias, ou por criminosa pretensão, criaram considerável número de grupos, cujos membros, em sua maioria, desconheciam os preceitos mais rudimentares da Doutrina. Qualquer espírita formava um grupo, só para satisfazer a vaidade de dar-lhe por título um nome que ele venerava. De grupos produtivos apenas se contavam alguns, em número por demais reduzido."
No ano seguinte (1881), como um desdobramento do "Grupo Fraternidade" foi fundado o Grupo Espírita Humildade e Fraternidade, com apoio de Francisco Raimundo Ewerton Quadros, que viria a ser, anos mais tarde, um dos fundadores da FEB e seu primeiro presidente (7 de junho). O ano foi marcado, entretanto, pelo início da perseguição oficial ao Espiritismo (28 de agosto). Os periódicos cariocas O Cruzeiro e Jornal do Commercio, anunciaram em suas páginas, em furo de reportagem, a ordem policial que proibiu o funcionamento da "Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade" e dos centros que lhe eram filiados, tornando passíveis de sanções penais os espíritas que contrariassem as disposições policiais. Nesse mesmo dia, a Sociedade reuniu-se em sessão extraordinária, a fim de tomar providências defensivas, caso a referida noticia fosse confirmada. Ainda nesse mesmo dia, a Diretoria da Sociedade Acadêmica compareceu perante o Ministro da Justiça, que a recebeu com muita cordialidade, declarando que deveria ter havido algum equivoco, e que não consentiria na perseguição de ninguém.
Entretanto, no dia 30 de agosto, um Oficial de Justiça apresentou à Sociedade Acadêmica a contra-fé do mandado de intimação do 2º Delegado de Polícia do Município da Corte, mandado que suspendia e vedava as reuniões da dita Sociedade, alegando que ela não se achava legalmente constituída. De imediato, a Diretoria da Sociedade Acadêmica expediu ofícios ao Chefe de Polícia e ao Ministro da Justiça, Conselheiro Manuel Pinto de Souza Dantas, demonstrando a arbitrariedade daquela medida. Uma comissão, da qual faziam parte o Dr. Antônio Pinheiro Guedes, Carlos Joaquim de Lima e Cirne e o Dr. Joaquim Carlos Travassos, entrou em contato com o Chefe de Policia, que, apesar de a ter recebido com amabilidade, nada resolveu, dando a entender que a ordem vinha de autoridade superior.
É nesse contexto que, no dia 6 de setembro de 1881, teve lugar o primeiro Congresso Espírita no Brasil, promovido pela Sociedade Acadêmica.13 No mesmo dia, uma comissão de espíritas foi recebida pelo Imperador Pedro II do Brasil, a quem entregou em mãos um documento com minuciosa exposição dos fatos e o pedido de que se fizesse justiça. O Imperador, na ocasião também terá afirmado: "Eu não consinto em perseguição". Duas semanas depois, a 21, a mesma comissão retornou ao palácio a fim de conhecer da resposta às considerações emitidas na exposição que fora entregue ao Imperador. Este afirmou que enviara os papéis ao Ministro do Império para dar solução ao caso, e tornou a afirmar, com certo ar de graça: "Ninguém os perseguirá. Mas...não queiram agora ser mártires."
Embora a ordem policial jamais tenha oficialmente revogada, também não teve prosseguimento. Finalmente, em Ofício de 10 de janeiro de 1882, dirigido a S.M. D. Pedro de Alcântara, Imperador do Brasil, a Diretoria da Sociedade Acadêmica manifestou o seu jubilo "pelo começo da tolerância" em relação àquela Sociedade, "sinal evidente de que estão terminadas as perseguições encetadas contra o Espiritismo e os espíritas".
Essa primeira ação policial contra o Espiritismo, teve como fruto a fundação, no Rio de Janeiro, em setembro ou outubro de 1881, do Grupo Espírita Vinte e Oito de Agosto, data que os espíritas da época quiseram fixar para a posteridade.
Em consequência do Congresso Espírita, veio a ser fundado, a 3 de outubro do mesmo ano, na "Sociedade Acadêmica", o Centro da União Espírita do Brasil, pelo professor Afonso Angeli Torteroli. A novel instituição tinha a proposta de congregar e orientar as sociedades espíritas a nível nacional.14 Entre os seus associados contava-se o nome de Lima e Cirne. Esta Sociedade lançou, em Janeiro de 1881 uma revista, o segundo periódico espírita no Rio de Janeiro, tendo nele colaborado o Major Ewerton Castro.
Para marcar o primeiro aniversário da notícia sobre a repressão aos espíritas, foi aberta, a 28 de agosto de 1882, a I Exposição Espírita do Brasil, na sede da Sociedade Acadêmica, à Rua da Alfândega nº 120 sobrado. O programa comemorativo, organizado pela própria Sociedade, intitulava-se "Festa do Espiritismo no Brasil" e estendeu-se até 3 de setembro. Os seus visitantes tiveram a oportunidade de apreciar variados trabalhos mediúnicos, como psicografias em caracteres normais, taquigráficos e telegráficos, em línguas estrangeiras (até orientais), psicopictografias, cópias da correspondência da Sociedade Acadêmica com associações espíritas estrangeiras, jornais e revistas espíritas da Europa e da América, obras espíritas diversas, retratos de vultos do Espiritismo de vários países e, também livros e jornais contrários à Doutrina. Na ocasião foi lançado ainda o jornal "O Renovador", pelo Major Salustiano José Monteiro de Barros e pelo Prof. Afonso Angeli Torteroli. Poucos meses depois, surgiria o "Reformador", sob a direção de Augusto Elias da Silva (21 de janeiro de 1883). Para a ideia da publicação deste último pesou a Carta Pastoral combatendo o espiritismo, publicada em 1882 pelo bispo do Rio de Janeiro, que motivou respostas por parte do médico Antônio Pinheiro Guedes.
Será Elias da Silva quem promoverá, ao final desse ano (27 de dezembro de 1883)15 , em sua própria residência, a reunião preparatória de rearticulação do movimento no Município da Corte, dada a manifesta incompreensão entre os componentes das diversas entidades espíritas então aí existentes:16 o "Centro da União Espírita do Brasil", o "Grupo dos Humildes", o "Grupo Espírita Fraternidade" e a "Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade". Como fruto desse entendimento, será fundada, a 1 de janeiro de 1884, a Federação Espírita Brasileira, considerada como a "Casa de Ismael", com o objetivo de federar todos os grupos através de "um programa equilibrado ou misto" e que difundisse por todos os meios o Espiritismo, principalmente pela imprensa e pelo livro.1718
A 17 de agosto de 1885, em uma sala na rua da Alfândega, a FEB inaugurou o ciclo de conferências públicas que se destacará, tendo entre os seus oradores os nomes de Elias da Silva, Bittencourt Sampaio e outros pioneiros do Espiritismo no país. O aumento do afluxo de público fará com que essas palestras se transfiram para o Salão da Guarda Velha (na rua de igual nome, atual Av. 13 de Maio) onde, a 16 de agosto de 1886, o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes proclamará publicamente as suas convicções espíritas diante de mais de mil pessoas (1.500 ou duas mil, conforme as fontes).
Elias da Silva funda, em 1887 o Grupo Espírita Sete de Março, que se manterá em atividade até 1890.
Nos agitados dias que se estenderão da Abolição da Escravatura no Brasil (1888) até à proclamação da República (1889), destacam-se:
a série de artigos sobre a Doutrina Espírita publicada em O Paiz, periódico de maior circulação da época.nb 1 Com o nome de "Estudos Filosóficos - Espiritismo", os artigos saíram regularmente aos domingos, no período de 23 de outubro de 1887 a dezembro de 1893, assinados sob o pseudónimo "Max".
a mensagem do espírito de Allan Kardec no "Grupo Espírita Fraternidade", conclamando os espíritas à harmonia (1888); e
a decisão de Bezerra de Menezes - que por meio de artigos e conselhos pregava a necessidade de maior compreensão entre os espíritas - depois de muito instado, assumir a direção da FEB, sucedendo a Ewerton Quadros, que a administrara de 1884 a 1888, e que, como militar, fora transferido para a então Província de Goiás.
a visita do médium de efeitos físicos estadunidense Henry Slade (1835-1905) ao Brasil.19
É neste momento que se reorganiza e instala nas dependências da FEB o Centro da União Espírita do Brasil em sua segunda fase, com Bezerra de Menezes como presidente e, depois, Elias da Silva (1893)nb 2 . Foi ainda Bezerra de Menezes quem incorporou à FEB o "Grupo dos Humildes", depois denominado "Grupo Ismael". Após a proclamação da República, o Grupo Espírita Fraternidade incorporar-se-à, por sua vez também, à FEB.
Figuras proeminentes do movimento republicano, como Joaquim Saldanha Marinho (1816-1895) e Quintino Bocaiuva (1836-1912) tinham simpatia pela doutrina espírita.20 No meio literário destacam-se, como crítico, Machado de Assis (1839-1908), e como simpatizantes, Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) - que realizou sessões de psicografia em Paris e escreveu uma peça teatral ("Os Voluntários da Pátria") onde estão presentes elementos espíritas -, Castro Alves (1847-1871) - que pretendeu escrever uma obra de cunho espírita que seria o poema final de "Os Escravos" -, António Castro Lopes (1827-1901), poeta e filólogo, e Alexandre José de Melo Moraes (1816-1882), médico, historiador e político. 21
Fora do Município da Corte, destacou-se neste período a fundação, no Recife, do jornal espírita "A Cruz", por Júlio César Leal (6 de julho de 1881), primeiro periódico espírita da capital pernambucana.
"É crime praticar o Espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismãs e cartomancias, para despertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar cura de moléstias curáveis ou incuráveis, enfim, para fascinar e subjugar a credulidade pública. Pena: prisão celular de 1 a 6 meses e multa de 100$000 a 500$000."
Os espíritas protestaram junto a Campos Sales, então Ministro da Justiça, sem sucesso. O relator do Código, João Batista Pinheiro, limitou-se a afirmar que o texto referia-se à prática do chamado "baixo Espiritismo". Em 22 de dezembro de 1890, Bezerra de Menezes, enquanto presidente do "Centro da União Espírita do Brasil", oficiou ao Presidente da República, Marechal Deodoro da Fonseca, acerca do novo Código Penal.
Preocupado com possíveis focos de resistência ao regime, o Governo autorizou a polícia a invadir reuniões e residências à procura de opositores. Como consequência, em 1891, na cidade do Rio de Janeiro, vários espíritas chegaram a ser detidos. Perseguidos e proibidos de se reunirem, os poucos centros espíritas então existentes viram-se na contingência de fecharem as suas portas, a fim de que não incorressem nas penas da Lei. A própria FEB foi obrigada a suspender a publicação de sua revista, o "Reformador" neste momento. Será nesse contexto, entretanto, que Bezerra de Menezes funda o Grupo Espírita Regeneração (18 de fevereiro de 1891), a "Casa dos Benefícios"nb 3 .
Em 1893, no auge da segunda Revolta da Armada, o Governo endureceu ainda mais o regime. Os espíritas apresentaram um novo protesto ao Congresso Nacional contra o Código Penal, uma vez mais em vão, de vez que a comissão revisora do Código não atendeu às reivindicações formuladas por aqueles. Vitimado por dificuldades externas e internas, o Reformador deixou de circular no último trimestre daquele ano. O "Grupo Espírita Fraternidade", após ter alterado os seus estatutos passando a denominar-se "Sociedade Psicológica Fraternidade", Revolta da Armada, extinguiu-se, e, no Natal desse mesmo ano, Bezerra de Menezes encerrou a série "Estudos Filosóficos" que vinha publicando no O Paiz.
No ano seguinte (1894), com o abrandamento da situação política, Augusto Elias, em conjunto com Fernandes Figueira e Alfredo Pereira, inicia uma campanha financeira para subsidiar os projetos da FEB. O Reformador voltou a circular.
Os historiadores do movimento registam que, à época, vivia-se uma cisão ideológico-doutrinária entre os chamados "laicos" ou "científicos", representados pelo Prof. Angeli Torteroli, que defendiam o aspecto científico do espiritismo; e os "místicos", pelo Dr. Bezerra de Menezes, que defendiam o aspecto religioso. Desse modo, em 4 de abril de 1894 o "Centro da União Espírita" muda o seu nome para Centro da União Espírita de Propaganda do Brasil, sob a direção do Prof. Angeli Torteroli, com sede à Rua Silva Jardim nº 9. À sua Diretoria pertenciam nomes como os de Júlio César Lealnb 4 e Bezerra de Menezes, que dela se retirou em 1896, diante da campanha de insultos pessoais que contra ele se desencadeara, por ser considerado um místico, que não se dava ao trabalho de raciocinar.nb 5 .
Diante da renúncia de Júlio César Leal à presidência da FEB, após sete meses no cargo, devido à profunda crise administrativo-financeira e ideológica vivida pela instituição, Bezerra de Menezes, a 3 de agosto de 1895, aceita assumir mais uma vez o cargo. No exercício de suas funções, imprimiu orientação evangélica aos trabalhos da instituição, permaneceu no cargo até vir a falecer, em 1900.
Nesse interím, em 28 de agosto de 1897 o "Centro da União Espírita de Propagada do Brasil" reúne-se em "Congresso Espírita Permanente", homenageando a "Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade", objeto de tentativa de perseguição aos espíritas em 1881. Todavia, o "Centro" desaparece no mesmo período do Congresso.
Em 1904 já circulavam no país nada menos que 19 periódicos dedicados ao espiritismo.22
Em 15 de abril de 1905 a sede da FEB, então à rua do Rosário 97, no centro histórico da cidade, foi visitada por funcionários da Diretoria Geral de Saúde Pública, que lavraram autos de infração contra o médium Dr. Domingos de Barros Lima Filgueiras, por exercício ilegal da Medicina. No processo, aberto contra o então presidente da FEB - Leopoldo Cirne - e o médium Domingos Filgueiras, ambos foram absolvidos.
A nova sede da FEB, na Rua do Sacramento (atual Avenida Passos), foi inaugurada a 10 de dezembro de 1911.
A 1 de maio de 1912 é fundado, na cidade do Rio de Janeiro, o jornal espírita semanal Aurora, por Inácio Bittencourt, seu responsável por mais de três décadas. Sob a sua presidência será fundado, em 1919, o Abrigo Tereza de Jesus, tradicional obra assistencial que chegou aos nossos dias.
O papel centralizador da FEB a nível nacional foi questionado, na década de 1920, com a fundação da Liga Espírita do Brasil por Aurino Barbosa Souto (31 de março de 1926), que também tinha a mesma proposta. Como reação, reuniu-se no mesmo ano, pela primeira vez, o Conselho Federativo da FEB.
O "Jornal do Brasil" publicou entrevista com o escritor Coelho Neto (7 de junho de 1923), anteriormente intransigente adversário do Espiritismo, mas que a ele se converteu após ter participado, na extensão do seu escritório, de uma conversa ao telefone entre a sua neta, falecida em tenra idade, e a mãe dela.23 Nesse mesmo ano, proferiu um discurso sobre a sua adesão à doutrina espírita, no Salão da Guarda Velha, no Rio de Janeiro.24 Nesse mesmo ano, o serviço de mediunidade receitista da FEB atingiu o seu mais alto número de consultas, com quase 400 mil pessoas atendidas.25
Desde a década de 1920 registravam-se choques entre o espiritismo e a psiquiatria. Henrique Roxo (1877-1969), em seu "Manual de Psiquiatria" (1921) dedica um capítulo inteiro ao espiritismo, reproduzindo o discurso médico e católico da época, ainda marcado pelo escravismo, que remetia a crença, no país, a resquícios do fetichismo africano, observando: "Vê-se muito frequentemente o que se observa no cinema, nessas danças de negros, com seus movimentos extravagantes, suas contorções e seus gestos." Os profissionais formados na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro consideravam o espiritismo como uma patologia contagiosa, capaz de incapacitar grandes contingentes humanos para o trabalho. Devia, por essa razão ser reprimida pelas autoridades e erradicada por meio de campanhas de saúde pública:
O combate ao espiritismo deve ser igualado ao que se faz à sífilis, ao alcoolismo, aos entorpecentes (ópio, cocaína, etc.), à tuberculose, à lepra, às verminoses, enfim a todos os males que contribuem para o aniquilamento das energias vitais, físicas e psiquícas do nosso povo, da nossa raça em formação.
— João Coelho Marques, Espiritismo e Idéias Delirantes, tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, 1929.
O doutorando, apelava à Liga Brasileira de Higiene Mental e à Igreja Católica para sensibilizarem a opinião pública e os poderes constituídos, propondo mesmo uma "Semana antiespirita" à semelhança da então existente "Semana antialcoólica", para mobilizar a sociedade contra esse mal.27 Antônio Xavier de Oliveira, na obra "Espiritismo e Loucura" (1931), afirmou que dos casos por ele estudados no "Pavilhão de Assistência a Psicopatas", 1.723 pessoas enlouqueceram "só exclusivamente pelo espiritismo". E acerca de "O Livro dos Médiuns":
É a cocaína dos debilitados nervosos que se dão à pratica do espiritismo. E com um agravante a mais: é barato, está no alcance de todos, e por isso mesmo, leva mais gente, muito mais aos hospícios, do que a 'poeira do diabo', a 'coca maravilhosa'... É o tóxico com que se envenenam, todos os dias, os débeis mentais, futuros hóspedes dos asilos de insanos. Lêem-no, assimilam-no, incluem a essência diabólica de que é composto, caldeiam os conhecimentos nele adquiridos nas sessões espíritas.
— António Xavier de Oliveira. Espiritismo e Loucura. Rio de Janeiro, 1921. p. 211.
Também a partir de 1943 o espírito André Luiz, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, inicia uma série de livros que abordam a vida no plano espiritual. A primeira obra, "Nosso Lar" foi lançada no Rio de Janeiro no ano seguinte (1944).31 Nesse mesmo ano (1944), D. Catarina Vergolino de Campos, viúva do escritor Humberto de Campos (falecido em 1934), abriu processo contra a FEB e contra o médium Francisco Cândido Xavier, visando receber direitos autorais sobre as mensagens psicografadas atribuídas ao seu finado marido32 . Também nesta cidade, e neste ano, foi fundada a Cruzada dos Militares Espíritas (10 de dezembro de 1944).
Ainda em 1944 Cornélio Pires publica a obra "Coisas D'Outro Mundo", de tema espírita. Viria a publicar outra obra espírita em 1947 - "Onde estás, oh Morte?" e, após o seu falecimento, prosseguiria o trabalho literário através da psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Em 1945 foi fundado o Hospital Espírita Pedro de Alcântara, no Rio de Janeiro. Nesse ano iniciou-se, em São Paulo, por iniciativa das suas federações, um novo processo pela unificação do movimento espírita no país, que dará lugar, em 1947, ao I Primeiro Congresso Espírita do Estado de São Paulo, pró-unificação. No ano seguinte (1948, ainda em São Paulo, tem lugar o Congresso Espírita Centro-Sulino, também pró-unificação.
Com o fim do Estado Novo, a Constituição brasileira de 1946 garantiu ampla liberdade religiosa no país.
No estado da Bahia, ao final da década, iniciou-se o trabalho assistencial de Divaldo Pereira Franco. Este, juntamente com um grupo de colaboradores, fundou em Salvador o Centro Espírita Caminho da Redenção (7 de setembro de 1947) onde, no ano seguinte, sob a orientação do espírito Auta de Souza, iniciou a "Caravana Auta de Souza", para o atendimento a famílias necessitadas (9 de setembro de 1948).
Dada a movimentação paulista em favor da unificação, tem lugar, no Rio de Janeiro, o evento mais importante do período: a aprovação dos dezoito itens do Pacto Áureo, considerado o mais importante documento do movimento espírita no país (5 de outubro de 1949). O documento tinha a finalidade de unificar as federações estaduais em torno da FEB. No ano seguinte (1950) foi estabelecido o Conselho Federativo Nacional, composto pelo representantes das referidas entidades adesas. Ainda em 1950 partiu do Rio de Janeiro para a Região Nordeste do Brasil, a chamada Caravana da Fraternidade, integrada, entre outros, por Lins de Vasconcelos, Carlos Jordão da Silva e Leopoldo Machado. Como resultado, ampliou-se o número das federações estaduais no país.
Em termos de divulgação, realizou-se em 1949 o II Congresso Espírita Pan-Americano, na cidade do Rio de Janeiro, promovido pela Liga Espírita do Brasil.
Selo dos Correios em homenagem ao centenário do falecimento de Kardec (1969).
Chico Xavier.
O Espiritismo no país foi marcado, na década de 1950 e na de 1960, por dois grandes fenómenos: José Pedro de Freitas, popularmente conhecido por "Zé Arigó" - cuja prática mediúnica não se filiava à Doutrina Espírita ou a qualquer instituição oficial -; e Francisco Cândido Xavier, popularmente conhecido por "Chico Xavier". Zé Arigó, "recebendo" o espírito do Dr. Fritz, realizou gratuitamente tratamento mediúnico em milhares de pessoas e sofreu dois processos por exercício ilegal de medicina: um em 1958, no qual não foi preso pois recebeu indulto do então presidente Juscelino Kubitschek - cuja filha havia sido tratada por Arigó -, e outro em 1964, no qual ficou alguns meses preso mas sem parar de aplicar os tratamentos mediúnicos33 . Chico Xavier chegou a completar o 100º livro psicografado, com os direitos autorais de todos os livros cedidos para instituições de caridade34 , e fundou em Uberaba junto com o médium e médico Waldo Vieira o centro espírita "Comunhão Espírita Cristã", onde realizaram grande atividade mediúnica e filantrópica; também sofreu acusação de fraude (não provada e depois retirada)35 , em 1958, pelo próprio sobrinho, Amauri Pena e esteve envolvido, com Waldo Vieira, no escândalo das chamadas "materializações de Uberaba", em 1964, que ocupou 70 páginas da revista "O Cruzeiro", ilustradas por 87 fotografias, em onze edições, ao longo de três meses.36
Foi ainda na década de 1950 que o padre Oscar Quevedo se radicou no Brasil, iniciando uma ampla divulgação de sua interpretação da parapsicologia como resposta ao Espiritismo.
No contexto do movimento federativo que se difundiu após a assinatura do chamado "Pacto Áureo, em 1953 a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil reiterou a condenação católica ao espiritismo. No mesmo ano, a FEB declarou que os umbandistas poderiam ser considerados espíritas, o que causou vivas reações no movimento espírita.37
Em 1960 veio à luz a obra "O Espiritismo no Brasil", de frei Boaventura Kloppenburg, militante católico contrário ao espiritismo.
Em 13 de dezembro de 1963 foi fundado, na cidade de São Paulo, o Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas (IBPP), pelo engenheiro e parapsicólogo espírita Hernani Guimarães Andrade.
No Rio de Janeiro, o coronel Jaime Rolemberg de Lima, lança o boletim informativo "Serviço Espírita de Informações" (maio de 1965).
Em 1968 foi fundado a primeira associação brasileira de médicos espíritas, a Associação Médico-Espírita de São Paulo.38
A década de 1970 iniciou-se com as duas entrevistas históricas a Chico Xavier, veiculadas pela extinta TV Tupi Canal 4 de São Paulo, no programa "Pinga-Fogo", a primeira na noite de 28 de julho, que conseguiu a maior audiência da história da TV brasileira39 , e a segunda na de 21 de dezembro de 1971, que também foi um sucesso de audiência.
No Rio de Janeiro, foi fundada a Rádio Rio de Janeiro (1971), a primeira emissora de rádio espírita do país.
No início dos anos 70, houve também o começo do movimento Pedagogia Espírita, tendo o filósofo José Herculano Pires como pioneiro40 .
No cinema, chegou às telas o filme Joelma 23º Andar (1979), dirigido por Clery Cunha e protagonizado por Beth Goulart, baseado na obra "Somos Seis", psicografada por Chico Xavier. Este é o primeiro filme brasileiro com temática espírita e o único que retratou o incêndio do Edifício Joelma que deixou 179 mortos e mais de 300 feridos (1 de fevereiro de 1974). Também em 1979 houve um dos mais famosos casos envolvendo Chico Xavier, e que teve repercussão mundial: o caso em que José Divino Nunes, acusado de matar o melhor amigo, Maurício Henriques, foi inocentado pelo juiz, que aceitou como prova válida (entre outras que também foram apresentadas pela defesa) um depoimento da própria vítima, já falecida, através de texto psicografado por Chico Xavier41 .
A década de 1980 foi marcada pela campanha de proposição, no país, de Chico Xavier para receber o Prêmio Nobel da Paz (1981) e pelo lançamento, pela FEB, do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita (1983), uma campanha institucional permanente visando divulgar o aprofundamento coletivo nos estudos da Doutrina espírita. A jornalista Elsie Dubugras traz a público o que que se tornaria um fenómeno de mídia no país, com projeção no exterior: a psicopictografia de Luiz Antonio Gasparetto.
Em meados da década registrou-se o ressurgimento do fenômeno do Dr. Fritz, através do médium pernambucano Edson Cavalcante Queiroz, que viria a ser assassinado em 1991.42
O ano de 1987 destacou-se pelo lançamento da obra "O Lado Oculto do Folclore Brasileiro" do médium Luiz Antonio Millecco.
Ao final da década, teve lugar o Congresso Internacional do Espiritismo, em Brasília, de 1 a 5 de outubro de 1989.
As Cartas Psicografadas por Chico Xavier (2010), filme do gênero documentário, dirigido por Cristiana Grumbach mostrando o testemunho de famílias que receberam notícias de seus entes queridos falecidos por meio de cartas psicografadas por Francisco Cândido Xavier.
E a Vida Continua... (2012), dirigido por Paulo Figueiredo, com base na obra homônima psicografada por Francisco Cândido Xavier.
Segundo o último censo demográfico realizado pelo IBGE (2010), o Brasil possui 3,8 milhões de adeptos da Doutrina Espírita e os espíritas são o segmento social que têm maior renda e escolaridade no país45 .
Os espíritas têm sua imagem fortemente associada à prática da caridade. Eles mantêm em todos os estados brasileiros asilos, orfanatos, escolas para pessoas carentes, creches e outras instituições de assistência e promoção social. Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, é uma personalidade bastante conhecida e respeitada no Brasil. É o autor francês mais lido no país, seus livros já venderam mais de 25 milhões de exemplares em todo o território brasileiro. Se forem contabilizados os demais livros espíritas, todos decorrentes das obras de Kardec, o mercado editorial brasileiro espírita ultrapassa 4.000 títulos já editados e mais de 100 milhões de exemplares vendidos46 . Os livros espíritas lideram o ranking dos mais vendidos nas principais livrarias do país47 .
O francês Jean-Baptiste Roustaing, contemporâneo de Allan Kardec, defendeu entre outras, a tese de que Jesus Cristo manifestou-se na Terra não em um corpo físico, mas sim espiritual. No Brasil a polémica histórica resultante contribuiu para, e alimentou, uma longa cizânia entre os espíritas ditos "místicos" e os "científicos", com desdobramentos até aos dias de hoje.
Na cidade de Santos, os imigrantes portugueses Luís José de Matos e Luís Alves Tomás fundaram, em 1910, o Centro Espírita Amor e Caridade, e lançaram, em 1914, "Espiritismo Racional e Científico Cristão", obra fundamental da nova doutrina, hoje distribuída sob o título "Racionalismo Cristão".
Matos, que frequentava centros espíritas em Santos desde 1909, julgava haver excesso de religiosidade e misticismo entre os adeptos do espiritismo, e que este deveria ser "a ciência das ciências, a filosofia das filosofias, mas não deveria se vincular a qualquer dimensão religiosa".
Inicialmente denominado de "Espiritismo de Ramatis", e atualmente espiritualismo universalista, remonta à segunda metade da década de 1950, quando alguns centros espíritas começaram a estudar e defender as obras e ideias ditada pelo espírito Ramatis (corporificada sobretudo nas obras psicografadas por Hercílio Maes). Distinguem-se dos centros espíritas tradicionais em função da maior ênfase ao universalismo (origem comum das religiões) e ao estudo comparado de religiões e filosofias espiritualistas ocidentais e orientais. Nota-se também a influência mais acentuada de correntes de pensamento orientais, tais como o budismo e o hinduísmo.
Embora não se trate de uma corrente religiosa ou doutrinária, fundamentou-se em ensinamentos ditados pelos espíritos. Surgiu na década de 1960, como uma forma de tratamento alternativo a doentes desenganados. Através de um trabalho de sistematização coordenado pelo Dr. José Lacerda de Azevedo, do Hospital Espírita de Porto Alegre, foram fixadas as Leis da Apometria.
Surgida também como uma dissidência do movimento espírita, desde setembro de 2002. Sem deixar de seguir a Doutrina Espírita, afirma fazê-lo com maior seriedade do que o movimento brasileiro em si, argumento usado para o afastamento.
↑Este episódio é referido por alguns autores como o da fundação do "Centro Espírita do Brasil" (21 de abril de 1889), tendo Bezerra como seu primeiro presidente, que instalou a primeira Escola de Médiuns, junto com Elias da Silva.
↑Para uma história da instituição, ver: Francisco Cândido Xavier. Queda e Ascensão da Casa dos Benefícios. Rio de Janeiro: Grupo Espírita Regeneração, 1991.
↑Os "místicos" também seriam chamados de "bezerristas". Bezerra, aliás, seria atacado através de notas como esta: "Os argumentos do Dr. Bezerra de Menezes, em prol da sua orientação espírita, não passam de vistosas bolhas de sabão, sopradas pelo seu misticismo para deslumbrar a simplicidade ignorante dos que não sabem ou não querem se dar o trabalho de raciocinar." (SOARES, Sylvio Brito. Vida e Obra de Bezerra de Menezes. Rio de Janeiro: FEB, 1963.)
Referências
↑O professor Rivail havia ouvido falar do assunto um ano antes (1854), através de um amigo, o sr. Fortier, que também era magnetizador.
↑Juvanir Borges de Souza, em palestra intitulada Primórdios do Movimento Espírita no Brasil, proferida durante a Conferência Espírita Brasil-Portugal (Salvador (BA), 16 a 19 de março de 2000), atribui a obra "Os Tempos são chegados" à autoria do professor Lieutaud e a tradução de "O Espiritismo na sua expressão mais simples", ao também professor Alexandre Canu, referindo que o nome deste último como tradutor apenas figurou na terceira edição da obra, publicada em 1862.
↑Na raiz da divergência encontrava-se a apreciação/estudo da obra Os Quatro Evangelhos de Jean-Baptiste Roustaing: por afinidade ideológica, a quase totalidade dos "místicos" defendiam-na, enquanto que a maioria dos "científicos" repudiavam-na. in: QUINTELLA, Mauro. História do Espiritismo no Brasil.
↑QUINTELLA, Mauro. História do Espiritismo no Brasil.
↑QUINTELLA, Mauro. História do Espiritismo no Brasil. O mesmo autor indica que a edição de Novembro da revista da Sociedade Acadêmica apresenta uma relação de instituições filiadas até aquele mês.
↑A proposta era a de fundar-se uma instituição ideologicamente neutra, que não fosse nem "mística", nem "científica". QUINTELLA, Mauro. História do Espiritismo no Brasil.
↑QUINTELLA aponta ainda que: "Para comprovar a neutralidade da nova sociedade, os científicos Angeli Torteroli e Joaquim Távora são convidados a se cadastrarem como sócios-fundadores." (Op. cit.)
↑O Reformador de 1 de janeiro de 1884, assim referiu o fato: "Acha-se em via de organização a Federação Espírita Brasileira.Fitando o largo horizonte da propaganda escrita, acreditamos que prestará serviços da máxima importância para a vulgarização dos princípios filosóficos do Espiritismo."
↑O médium foi visitado, numa casa de pensão onde se hospedara na Glória, por uma comissão da Federação Espírita Brasileira, composta por Bezerra de Menezes, Antonio Sayão, e outros, tendo Slade fornecido provas incontestáveis de sua mediunidade.
↑GIUMBELLI, Emerson. "Kardec nos Trópicos". in Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 3, nº 33, junho de 2008, p. 14-19.
↑PALMEIRA, Vivian. "Curiosas Histórias do Espiritismo". in: "Universos Espírita", nº 49, ano 5, 2008. pp. 8-12.
↑GIUMBELLI, Emerson. "Kardec nos Trópicos". in Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 3, nº 33, junho de 2008, p. 14-19.
↑GIUMBELLI, Emerson. "Kardec nos Trópicos". in Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 3, nº 33, junho de 2008, pp. 14-19.
↑AURÉLIO, Dâmocles. História do Espiritismo em Pernambuco (vol. I: 1853-1900). 1991.
↑ISAIA, Artur Cesar. "Loucura Coletiva?". in Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 3, nº 33, junho de 2008, p. 20-25.
↑RIBEIRO, Leonídio; CAMPOS, Murilo de. O espiritismo no Brasil. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1931.
↑A prática do espiritismo, em suas diversas vertentes, desde 1934 era coibida pela Secção Especial de Costumes e Diversões do Departamento de Tóxicos e Mistificações do Rio de Janeiro, que também lidava com as questões ligadas ao alcoolismo, jogos ilícitos, drogas e prostituição.
↑GIUMBELLI, Emerson. "Kardec nos Trópicos". in Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 3, nº 33, junho de 2008, p. 14-19.
↑Este processo, que se celebrizou pela sua originalidade, foi movido no sentido de obter uma declaração, por sentença, acerca de se daquela obra mediúnica "era ou não do 'Espírito' de Humberto de Campos", e, em caso afirmativo, que se aplicassem as sanções previstas em Lei. O assunto causou muita polêmica, tendo ocupado espaço nos principais periódicos do país à época. Em 23 de agosto de 1944, por sentença do Dr. João Frederico Mourão Russell, juiz de Direito em exercício na 8ª Vara Cível do antigo Distrito Federal, a ação foi julgada improcedente. O recurso, impetrado no Tribunal de Apelação do antigo Distrito Federal, manteve a sentença original, tendo sido relator o ministro Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa. (TIMPONI, Miguel. A Psicografia ante os Tribunais).
↑FULLER, John Grant. Arigo: Surgeon of the Rusty Knife. New York: Thomas Y. Crowell, 1974. [prefácio por Henry K. Puharich, MD] ISBN 0690005121
↑SOUTO MAIOR, Marcel. As Vidas de Chico Xavier. 2ª ed. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2003; pg. 189.
↑SOUTO MAIOR, Marcel. As Vidas de Chico Xavier. 2ª ed. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2003; pg. 141.
↑"Baseados em Kardec, é-nos lícito dizer: todo aquele que crê nas manifestações dos espíritos é espírita; ora, o umbandista nelas crê, logo, o umbandista é espírita." (Reformador, julho de 1953, p. 149). Anos mais tarde, em 1958, o Segundo Congresso Brasileiro de Jornalismo e Escritores Espíritas opôs-se considerar os umbandistas como espíritas. Duas décadas mais tarde, em 1978 o Reformador, órgão oficial da FEB, publica que a designação de "espíritas" pelos umbandistas é "imprópria, abusiva e ilegítima".
↑Médicos de fé. Revista Época, 14 julh. 1999. Consultado em 23 julh de 2013.
↑iG São Paulo (29/06/2012). IBGE: com maior rendimento e instrução, espíritas crescem 65% no País em 10 anos (html). Último Segundo › Brasil. Página visitada em 15-12-2012. "(...)os adeptos do espiritismo possuem as maiores proporções de pessoas com nível superior completo (31,5%) e taxa de alfabetização (98,6%), além das menores percentagens de indivíduos sem instrução (1,8%) e com ensino fundamental incompleto (15,0%). O espiritismo também foi uma das religiões que apresentaram crescimento (65%) desde o Censo realizado em 2000: passaram de 1,3% da população (2,3 milhões) em 2000 para 2% em 2010 (3,8 milhões).(...)Também na posição mais alta quando se analisa rendimento, 19,7% dos espíritas se declararam no grupo das pessoas com rendimento acima de 5 salários mínimos."
↑Missão da Federação Espírita Brasileira (FEB). Allan Kardec. Página visitada em 20-07-2013.
↑Leitores de Fé. Revista Época, 26 junh. 2009. Consultado em 23 julh de 2013.