Silêncio
O silêncio não faz de um tolo um mestre.
Essa
é uma estranha afirmação de um buda, porque o silêncio tem sido sempre
muitíssimo louvado; mas Buda diz a verdade como ela é. Ele não se importa com a
tradição.
Na Índia, o silêncio tem sido uma das qualidades mais louvadas, durante séculos. O monje jaina é chamado de muni – muni quer dizer “o silencioso”. Todo o seu esforço é para ficar calado, cada vez mais calado. Mas Buda diz: “Mas não seja tolo, só o silêncio não vai adiantar”. Ele pode ajudá-lo a manter sua tolice para si mesmo, mas a tolice irá se acumulando e, mais cedo ou mais tarde, ela será excessiva. Ela acabará transbordando e é melhor deixá-la sair em pequenas doses todos os dias, em vez de acumulá-la e depois vê-la causar uma enchente.
É
isso que também tenho observado. As pessoas que ficam caladas por muito tempo
tornam-se muito burras, porque seu silêncio é somente na superfície. Lá no fundo,
há agitação. Lá no fundo, elas são as mesmas pessoas, com ambição, ciúme,
inveja, ódio, violência – inconscientes, com todas as espécies de desejos.
Talvez agora elas sejam desejosas de outro mundo, ambicionem o outro mundo,
pensado mais em paraíso do que neste mundo e na terra. Mas é a mesma coisa,
projetada numa tela maior, projetada na eternidade. Na verdade, a ambição
cresceu milhares de vezes. Primeiramente, era por pequenas coisas: dinheiro,
poder, prestígio. Agora é por Deus, pelo samadhi, pelo nirvana.
Ela ficou mais condensada e mais perigosa.
Então,
o que é preciso fazer? Se o silêncio não pode fazer de um tolo um mestre, então
o que pode fazer de uma pessoa um mestre? Consciência. E o milagre é
que, se você se torna consciente, o silêncio te persegue como uma sombra.
Mas,
nesse caso, o silêncio não é praticado – ele vem por conta própria. E, quando o
silêncio vem por conta própria, ele tem uma tremenda beleza em si. Ele é vivo,
ele tem uma canção no seu âmago mais profundo. Ele é amoroso, ele é
bem-aventurado. Ele não é vazio; ao contrário: é plenitude. Você fica tão
cheio, que pode abençoar o mundo todo e, ainda assim, sua fontes continuam
inesgotáveis; você continua dando e não será capaz de esgotar a fonte. Mas isso
acontece por meio da consciência.
Essa
é a verdadeira contribuição de Buda – sua ênfase na consciência.
O
silêncio se torna secundário, o silêncio se torna uma consequência. A pessoa
não faz do silêncio a meta – a meta é a consciência.
Do Livro A
descoberta do Buda – OSHO –
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