quinta-feira, 24 de março de 2016

DEMOCRACIA?

JUSTIÇA E ÓDIO, DEMOCRACIA E GRITARIA? O QUE TEM A VER?

                                Por Dora Incontri (*)



Justiça não é entretecida de ódio, mas de isenção, bom-senso, comedimento e austeridade. Democracia não é feita com gritaria, mas com diálogo, argumentos, racionalidade.

Uma nação não se faz dividida, entre inimigos – isso é guerra civil ou prenúncio de ditadura – mas se faz a partir da visão serena e sincera, da ação sólida e pensada, em consenso entre todos, pelos interesses coletivos e não de um grupo, em detrimento de outro.

Uma crise não se vence com desespero, desrespeito à lei, agressões mútuas, ódio histérico. A crise é aprendizado, é caminhada, é momento de amadurecimento, se os atores históricos não se perderem na irracionalidade e no desmando.


Agora é hora de ponderação. E de uma ação ponderada. Meditação e prece por parte daqueles que se ligam a alguma espiritualidade. Reflexão madura por parte daqueles que não creem na transcendência, mas acreditam na possibilidade da paz.

Leiamos maduramente todos os argumentos pró e contra cada situação que se apresente. Saibamos, quando lemos algo, qual a origem daquele determinado discurso. E saibamos ouvir os lados opostos, procurando discernir o que é um fato de uma presunção, de um boato, de uma ideia, de um julgamento precipitado, de um discurso inflamado e interessado.

E na dúvida, abstenhamo-nos de proferir vereditos absolutos, apaixonados, taxativos e, sobretudo, que massacrem o outro e considerem todo aquele que pensa diferente como um imbecil, um mau caráter! Saibamos ver o outro além de rótulos e paixões. Atrás de qualquer posição política, além de qualquer cargo no poder, está um ser humano, igual a nós.

As imagens que estão compartilhando da estátua do Redentor, chorando pelo momento do Brasil, devem ser lidas não como a tristeza de Jesus diante do roubo de alguns, mas lágrimas de pesar pelo futuro julgamento daqueles que acusam sem provas, movidos pelo ódio. Ele avisou – seremos julgados com a medida com que julgarmos o próximo!

Tenhamos cautela, calma. Busquemos uma avaliação o mais serena possível no meio do nevoeiro da pólvora das denúncias, dos boatos, dos xingamentos, do massacre público.

E sobretudo, zelemos pelas boas maneiras uns com os outros, pela integridade, pela educação! Educação aqui entendida em todos os sentidos: a educação que se aprofunda na história, na reflexão filosófica, na análise das coisas com uma referência teórica mínima (e não apenas na deseducação promovida pela mídia), a educação que liberta consciências, abre os olhos da alma, para visões mais abrangentes e por fim, um sentido mais estrito, mas não menos importante da educação: o respeito ao próximo, a civilidade da convivência fraterna.

Se cada qual viver os princípios, pelos quais há tanta gente gritando (muitos de forma bastante hipócrita), mantendo sua integridade, trabalhando por um mundo mais justo, militando por uma educação que emancipe o indivíduo e por uma sociedade plural e fraterna, estaremos mais perto de soluções duradouras.

É disso que precisamos nesse momento!


(*) Jornalista, educadora e escritora. Suas áreas de atuação são Educação, Filosofia, Espiritualidade, Artes, Espiritismo. Tem mestrado, doutorado e pós-doutorado em Filosofia da Educação pela USP. É sócia-diretora da Editora Comenius e coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita. Coordenadora geral da Universidade Livre Pampédia.
http://canteiroideias.blogspot.com.br/



















Colaboração de Celia Regina

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