sábado, 1 de setembro de 2012

SENTINDO A POESIA

 
ESPERANÇA  MORTA 
Cora Coralina
 
 
...E enquanto se ouvir sobre a Terra
um gemido de dor,
Por discreto que seja,
A paz não passará de um sonho inatingível,
oculto entre as estrelas...
 
Enquanto se escutar um único lamento
Ecoando no mundo,
Na solidão da dor que promana,
Um desgosto profundo
Há de pairar na alma humana...
 
Enquanto o choro da orfandade
Altear-se ao longo dos caminhos,
Deixando em sobressalto os passarinhos,
Ninguém será feliz...
 
Enquanto soluçar o coração
Que mendiga alegria,
Não raiará o sol do Novo Dia
Que há muito a humanidade espera,
E nem haverá primavera...
 
Enquanto o pão, nos lares e nas mesas,
Não se houver, igualmente, repartido,
Em vão o homem clamará por Deus
Em seus lábios ateus...
 
Porque, enquanto a fé,
A que o Senhor da vida nos exorta,
Não transformar-se em prece em nossas mãos,
Nas ruínas do mundo sem amor
A Esperança, em seu berço, estará morta!...
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
 




 

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