quinta-feira, 6 de setembro de 2012

VIDA DE MÉDIUM

Pagode Sem Sanfona

 
 
 
       Desde que se tornara médium e fundara um centro no Sítio das Garças, onde morava, Osório não mais tivera tempo de visitar o amigo que residia a algumas léguas de distância.
       O trabalho era muito.
       Gente de toda banda começava a procurá-lo. 
       Desenvolvendo o dom da cura pela simples imposição das mãos, Osório, de fato, vivia agora assoberbado, dividindo o tempo entre a enxada na roça e a mediunidade no centro.
       A convite seu, que lhe mandara recado pelo caminhão leiteiro, Zeca montando um cavalo baio com que o próprio Osório lhe presenteara, chega ao Sítio das Garças para um almoço de um domingo ensolarado.
       Abraços e cumprimentos.
       Um bom papo, enquanto Dona Efigênia preparava aquele franguinho com arroz, tutu de feijão, quiabo e polenta.
       A sessão começaria às três da tarde.
       Mal Osório teria tempo para fazer o quilo, pois o pesssoal da redondeza e até de Lageado, a cidade mais próxima, começava a chegar.
       Zeca estava assustado com tamanha romaria.
       O amigo estava ficando famoso...
       Era carroça cheia de gente, bicicleta e até automóvel.
       Homens, mulheeres e crianças.
       Ao todo, Zeca contara só naquele domingo mais de duzentos...
       A reunião terminou quase meia-noite e o visitante quase não se aguentava mais de sono - de sono e de fome.
       Quando escureceu de vez, acenderam lampião, trouxeram lamparina...
       Lá dentro, Osório incorporado, atendia com paciência, um a um.
       Receitava plantas medicinais.
       Aconselhava o Evangelho.
       Era gente entrando e saindo, gente namorando lá fora, gente rezando lá dentro...
       Quando tudo terminou, estavam até sem janta -  se não fosse por um pedaço de bolo e um pão de queijo da comadre Efigênia, Zeca estaria com a barriga roncando - mas, dizámos, quando tudo terminou, com o seu jeito brejeiro de falar, Zeca, abraçando o cumpadre Osório, disse a ele deixando a dentadura à mostra:
       Cumpade, essa tar de mediunidade é um pagode... Virge Maria!...
       Sorrindo, como quem aos poucos, ia tomando tento da tarefa, Osório respondeu:
       - É um pagode mermo, cumpade, mas é um pagode sem sanfona...E ái de mim, se não subé dançá!...

                       (do livro Vida de Médium de Carlos Baccelli/Ramiro Gama)



*colaboração de Célia Regina



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