quinta-feira, 1 de novembro de 2012

PRECONCEITO RELIGIOSO


Uma Irmã de Caridade 

Realmente, nada existe sem ter uma razão de ser.  Retornávamos, caminhando por pequeno trecho, antes que nos entregássemos à volitação, que haveria de conduzir-nos ao núcleo espiritual de nossas atividades, quando a pequena distancia do "Pedro e Paulo", fomos interpelados por uma velhinha que trajava o hábito das irmãs domonicanas.
- Moços -abordou-nos, como alguém que estivesse exausto de peregrinar -, vocês são católicos? Sou a irmã Solange... Estou procurando em vão... Ninguém me informa o que quero saber. A vida toda consagrei-me a Jesus... Abjurava as demais religiões. Fui fiel. Nunca traí os meus votos. Vejam, trago no dedo a minha aliança de noivado espiritual com Jesus... Ouvi dizer que "morri"... Será?! Se "morri", onde está Jesus, que não veio me conduzir para o seu Reino?! Sou daqui mesmo, de Uberaba. Estou cansada! Já fui à "Medalha Milagrosa";  ninguém me escuta... Procurei o Sr. Bispo,  mas fiquei estarrecida com tantos padres ao redor dele - padres da minha condição, efetuando cobranças, pedindo-lhe que lhes exorcizasse os demônios...
 Veu negro sobre a cabeça, deixando à mostra faces enrugadas e magras, o crucifixo da ordem no pescoço, aquela senhora, deveria de fato, estar naquela situação há muito tempo...
Sem se identificar, o mentor reconheceu-a. Com terna e respeitosa inflexão de voz, entrou a dialogar com ela:
 - Minha irmã, a senhora, pelo que vejo, deve estar mesmo muito cansada... Não sei responder o que a senhora desja saber a respeito de Jesus, mas, se quiser, poderá vir conosco. Conhecemos um albergue próximo, uma espécie de retiro espiritual, onde a senhora poderá se refazer...
-Mas - precaveu-se a freira, revelando certa energia - é católico? Se não for católico, não quero. Uberaba está cheia de hereges, gente espírita, gente que fica lidando com as coisas do demônio... A conversa do senhor está me parecendo com a conversa dessa gente de Chico Xavier...
- Irmã Solange, sou Uberabense e, se a senhora quer saber a verdade, eu já morri...
A freira arregalou os olhos; embora franzina, o preconceito religioso a transfigurara...
- Ah!, eu bem que desconfiava... Esse retiro espiritual deve ser algum terreiro de macumba, não é?!...
E, segurando o crucifixo peitoral com as mãos trêmulas, prosseguia:
- Será que não encontro um cristão, um católico verdadeiro?!... Não é possível! Vocês são espíritas, não são? O pior é que ninguem que conheço vem em meu socorro... Será que ainda devo passar pelo que estou passando, para chegar ao Céu?!... Vocês não me toquem, não me coloquem as mãos, não me falem de suas heresias... Durante muitas décadas, fui fiel aos meus votos...Cuidei de muitas irmãs de caridade. Muitas delas eram tentadas na carne; era severa com elas e aplicava-lhes as penitências necessárias...
Com a mesma tranquilidade que sempre o caracterizava nas situações embaraçosas, o Instrutor argumentou:
- Sou, sou espírita, irmã, e a senhora me conhece. Sou Odilon Fernandes, lembra-se?
- Como não me lembraria?!... Além de espírita, maçom... Duplamente inimigo.  Nunca entendi você, de família tão boa, tão tradicional, envolvido com essa gente... Penso que não está no inferno, por causa de suas boas obras; sei que você fundou o "Instituto dos Cegos"... Você deve estar vagando também; ambos estamos no purgatório... Agora estou começando a compreender. Você também não achou o Céu e, se não achou o Céu, não pode me ajudar. Passar bem Sr. Odilon!...
Sem que aquele caso tivesse o desfecho que eu gostaria que tivesse, aquela irmã dominicana virou-nos as costas e continuou o seu caminho.
Sorrindo o benfeitor acrescentou:
- Vocês estão vendo? É uma das "noivas de Jesus"... Esperava, conforme a igreja lhe prometera, ser recebida pelo "noivo", que a conduziria consigo. Acreditou nisso a vida inteira... Não sei o que poderá ser feito por ela . Falarei com Sebastião Carmelita; quem sabe, ela o ouvirá...

(lição 45 do livro "Camminhos Além da Morte" de Carlos Baccelli/Paulino Garcia)


obs.: se você quer saber o desfecho dessa história, procure pelo livro citado que é recheado de vários casos interessantes com este.



Colaborção de Célia Regina                                                                                                                

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